XII Caminhada: Trilho do Vinho do Porto à Lupa

Eram 7 e meia, não 8 em pico e muito menos 9 e tal. Saí de casa à boleia, estava entusiasmado, era a primeira caminhada do grupo Solas Rotas desta temporada. Ía reencontrar velhos amigos e abrir a possibilidade de arranjar outros novos.

O calendário do grupo assinalava que ao décimo nono dia, deste mês de Setembro, havia uma caminhada. Lá para os lados de Lamego, o Trilho do Vinho do Porto. Confesso que ficava mais entusiasmado se fosse sumol , pois embora doce e por muito pouco que seja o vinho, fico um pouco ourado - se não for do norte não pense que me pode assaltar.

Já no local da concentração, onde os gatos miaram que há gaijas boas, em Ermesinde, sou informado que me deslocarei no papa móbil. Vermelho? Não deveria ser branco? Quem usa o vermelho?

Na altura do reconhecimento ficou combinado um encontro com um grupo de Coimbra. Partiríamos juntos, já que tinham uma caminhada no mesmo local e à mesma hora. Estávamos nós na Igreja de Samodães, um pouco acima do ponto de partida, vimos uma camioneta a chegar, num ápice saíram todos. E o ápice ainda não tinha acabado e já tinham debandado. Quem chegasse primeiro tinha a refeição paga no restaurante? Havia pouco cabrito? Ameaça de bomba? Tudo bem, dificilmente conseguiríamos andar ao mesmo ritmo, nós levávamos umas sandes e tínhamos todo o tempo do mundo e mais algum.

Contemplação da bonita paisagem do Douro Vinhateiro

Começamos a descida e nem tinham passado 50 metros e já estávamos a parar. O motivo era a panorâmica que tínhamos sobre o rio Douro e as suas vinhas plantadas nos socalcos. Uma paisagem de prender a respiração, que se acompanhada com um bom silêncio é de chorar por mais. SILÊNCIO?! O que é isso?


Foto do grupo: Kalima, André, Sérgio, Katy, Francisco, Leonel, Cláudio, Cláudia, Pinheiro, Carlos, Zé, Rodrigo, Agostinha, Rocha, Sónia Oliveira, Margarida, António, Sofia e Elisa.

Continuamos na descida, como mais tarde acertadamente alguém chamou de "Descida de Degustação". Começamos por uma óptimas uvas Moscatel de Hamburgo. Eu só via beiças sujas e olhos esbugalhados com tamanha fartura. Nesse mesmo local e ainda com grainhas no canto da boca resolvemos tirar a nossa fotografia de grupo. É da praxe, para mais tarde recordar. Olha a uva! Click.


Sónia transporta um enxerto de pomada ou merece um excerto de porrada.

Extasiada, a Sónia resolveu levar um pedaço de videira para mais tarde proceder a um excerto em sua casa. Cortou com enorme gentileza o caule, colocou-o numa garrafa com água, tendo depois aconchegado junto da sua mochila. Alguém observou que parecia o sketch do Herman José a imitar David Attenborough (youtube), quando ele abanava as folhas! Para mim era para se camuflar no meio das vinhas e mamar mais uvas, antes que o dono se aperceba que a sua produção baixou para metade. E depois pedem subsídios e dizem que é da geada!


Rugas das montanhas, sem botox, têm mais encanto.

Mais tarde vieram as amoras, mas a estas só se chegava de pau. De madeira. Todas as que estavam à mão de semear... foram-se! E por fim vieram os Figos, pedimos um autografo à mulher e continuamos. O papel! Que papel? O papel! Que papel? O papel entregue pela organização no início da caminhada afinal servia para alguma coisa. Depois de transferir o mapa, e de o guardar dentro das calças, lá continuamos.


"Dez euros por uma dúzia de figos que não são meus. É aproveitar! E por mais 5 euros, leva ainda, mais um Figo numerado"

Estávamos quase a chegar ao leito do rio.


E a Régua fica já ali a seguir à curva!

Já no rio, avistamos um pequeno barco. Vrummm...Vrummm... lá vinha ele no seu passo certo. Chu!... Chu!... Aparece a toda a velocidade um irmão mais velho. Acenamos para os seus passageiros, enquanto se consumava a ultrapassagem. As viagens Douro acima e Douro abaixo estão no seu auge.


Espelho meu, espelho meu existe alguém mais veloz do que eu? - pergunta o pequeno barco antes de ser ultrapassado. Teve que desligar os motores para a viagem não ir por terra.

O almoço foi no Aquapura Douro Valley, mais propriamente na entrada do mesmo. Puxamos das mais diversas sandes gourmet. Sandes de manteiga com sabor a "entrecosto de vitela maronesa envolto em massa folhada e recheado com cogumelos shiitake" e sandes de queijo com sabor a "vegetais do mediterrâneo e molho choron". Os 5 euros que trazia no bolso, lá continuaram... assim como a nossa caminhada.


Os ângulos de visualização e a inclinação mudam constantemente, mas a paisagem, essa é indiferente a esse facto. Continua constantemente maravilhosa.

À medida que íamos progredindo na acentuada subida, do vale, o rio mingava e as vinhas tornavam-se agora protagonistas principais. Uma vista maravilhosa, mesmo sem os óculos que nunca levo. Sabem, ainda não estou preparado para aderir à alta definição (HD).

Pelo caminho encontramos o Sr. "António", uma simpatia. A pensar em nós, guardou os seus 5 cães e começou a esvaziar a sua adega. Uma atrás da outra, foi processando todas as encomendas solicitadas. Agua(ardente), vinho tratado tinto, vinho tratado branco e até cabaças?!!! Só não levaram as cuecas do homem porque: não se lembraram, não as trazia ou porque tinha bebido muito vinho doce.


O sr. António ofereceu uma bela pomada. Os Homens ausentaram-se temporariamente, porque não vi ninguém a beber esta água muito ardente.

A caminhada terminou aqui, pelo menos para alguns. Agora apreciavam a bebida em vez da paisagem. Antes de abandonar o local ainda presenciei, uma conversa entre a Sónia e o anfitrião sobre o enxerto que ela pretendia fazer em sua casa. O homem dizia, "Não vai dar", a Sónia insistia, "Claro que vai!". Depois de um pingue-pongue de afirmações, o homem lá teve que dizer que era enxerteiro desde muito novo e que pelo menos 80% da vinha que via tinha sido enxertada por ele. Pois é a Sónia não sabia que ele tratava por tu os 5 maiores enxerteiros da Europa, mesmo assim prometeu-me que eu ia comer daquelas uvas.


Já o vinho do Porto, ou de Lamego para ser mais exacto... chega cheio!

Mais acima, o Capitão "António" esperava por nós. Bandeira de Portugal içada, boina e farda da tropa. Vai matando o tempo a conversar pelos viajantes que ali passam.


O sr. António, ex-combatente de Ultramar, continua agora a sua guerra pessoal. Quem passa, ajuda como pode, para ele sair vitorioso. Pelo menos vai matando o tempo.

Continuamos não para a frente, mas para o passado. Um camioneta, com certeza de outros tempos, passava vagarosamente na estrada. Tive para desistir de tirar uma fotografia, pois corria o risco de passar a noite ali mesmo, à espera que chegasse mais perto.


De repente recuamos no tempo, só não sabemos se o motorista era o maior!

Por fim lá avistamos uma casa, embora de gente muito pequenina. Estavam a ver televisão e nem nos deram um copo de água.


É uma casa portuguesa, com certeza! É, com certeza, uma casa portuguesa!

Chegamos ao ponto de partida e ao fim de mais um excelente caminhada, não fosse organizada por nós e por nós avaliada.

Boa(s) Caminha(das)

Outra(s) Informação(ões)
  • Percurso: PR2 - Percurso do Vinho do Porto
  • Local: Lamego
  • Partida/Chegada:Samodães
  • Tipo: Circular
  • Distância: 8 km
  • Grau: Moderado/Difícil (calor)
  • Data: 2010.09.19
  • Inicio: 10:00
  • Participantes: Kalima, André, Sérgio, Francisco, Katy, Agostinha, Rocha, Zé, Carlos, Leonel, António, Elisa, Cláudio, Cláudia, Sofia, Rodrigo, Margarida, Sónia Oliveira, Pinheiro (40 solas)
  • Almoço: Volante
  • Dicas: Água, Bastão (recomendado), Roupas adequadas às condições atmosféricas, botas, muda de roupa, protector solar.
  • Mapa: Faça o download aqui
  • Mais Informação: Instituto do Vinho do Porto
  • Organização: Solas Rotas
MapaKMLGráfico de Altitudes

Comentários

  1. boas

    As férias já lá vão...regressaram as caminhadas, para inicio de época não foi nada mau, tivemos provas de degustação desde uvas, amoras, figos...e até o famoso vinho oferta generosa do Sr. António, que nos deu força para a parte final.
    Para terminar umas deliciosas azeitonas de comer uma e não chorar por mais...valeu a intenção...

    Cumprimentos para todos, até à próxima

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  2. Bem pessoal

    Espero que tenham gostado da nossa primeira caminhada, queria agradecer a todo o grupo presente, pelo convívio e o divertimento...que já estamos habituados.

    Deixo aqui um agradecimento especial ao nosso amigo António pela sua generosidade, e ao "Comandante" Rocha Teixeira, pelo seu..."à vontade"

    Até Outubro...

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  3. Acrescentadas as legendas das fotos, ainda falta (bastante) texto. Na foto de grupo falta os nomes dos participantes. Sérgio por favor completa.

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  4. Mais depressa se fizeram os socalcos do Douro do que a descrição...

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  5. Adicionado link em "Mais Informações" para o Instituto do Vinho do Porto, mais propriamente para informação útil sobre o fabrico do Vinho do Porto.

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  6. Para os mais apressados...

    "No caso do Vintage ou dos Late Bottled Vintage (LBV), o envelhecimento faz-se inicialmente em casco, durante 2-3 anos no caso dos Vintage e durante 4 a 6 anos no caso dos Late Bottled Vintage." - IVDP

    Ainda não passou 1 mês! :)

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